sábado, 9 de julho de 2011

Belavisteando ...

(Ou, mi casa su casa)

Não, não é mais lá. Onde? Pra mim - eu que nunca manjei muito de geografia - é o coração da cidade. Eu sei, não dá pra ser mais clichê do que isso. Mas é verdade. Fica tudo ali, representado no quadrilátero. Microcosmo pulsando etc. Vem que te mostro. Sim, começa aqui mesmo. Paulista-arranha-céus-engravatados, Gazeta-Pamplona-MASP, estereótipos pra turista se fartar. Cuidado pra não esbarrar nas rodas de estudantes-blasesinhos-Cásper-GV. Como identificar? Fashion victims, cigarro queimando sozinho numa mão, Iphone e café da Starbucks na outra. Continuemos. Isso, Augusta, Consolação, ficam poucos quarteirões à frente; te disse que não era longe. Mas vem que o que eu quero mesmo te mostrar não é isso. Tá, ‘bora descer pela Frei Caneca então, a gente dá a volta lá embaixo. Aham, aqui a galera se sente à vontade pra beijar e andar de mão dada. Deveria ser assim em todo lugar, não acha? Ih, o Glória fica do outro lado, na Treze de Maio. Mas eu duvido que você ainda queira ir pra lá depois do que eu vou te mostrar. Continua seguindo em frente. Haha, deve mesmo ser a maior concentração de hotéis e teatros por metro quadrado. Hospitais também, ou então eu nunca poderia trazer minha cuia pra cá. A gente vai virar ali à direita, na Avanhandava. Essa mesmo, da famiglia famosa. Mas as cantinas delícia pra mim são as perto da Achiropita, amanhã a gente almoça por lá. Continua descendo a ladeira. Ah, ‘cê tá achando esses prédios luxuosos? É que a gente ainda não chegou no Morro dos Ingleses. Único lugar da região em que não vejo morador de rua. Certeza que mandam os seguranças dos duplex “limparem” a rua. Não, não vou contar pr’aonde tô te levando. ‘Guenta que falta pouco. As sirenes? Deve ser a polícia batendo na boca da Paim mais uma vez. Atravessa com cuidado que vira e mexe tem tiro. Medo? Eu fico é triste. Tem tanta gente bacana morando naqueles prédios. Um argentino que compõe tangos, umas senhorinhas da (ex)Tchecoslováquia com estórias de vida - e de guerra - inacreditáveis, e um dos meus pacientes favoritos: o gaitista diabético, incrível e lesado. Não, não cheira nada, pelo menos não que eu saiba. Lesado porque cismou que vai me ensinar a diatônica. Quais as chances da canhota aqui conseguir?! Mas ele bluesando é qualquer coisa de orgásmico. Sério. Adoro quando tenho que fazer VD por lá. Ah, desculpa. VD é visita domiciliar. Todo mundo dessa rua é paciente meu, da minha equipe de PSF. Haha, programa de saúde da família. Quando começo com as siglas não paro mais. Ei, prest’enção aí no semáforo que a galera passa voando na Nove de Julho. Pronto. Tá vendo aqui? Praça 14 Bis. Essa rua à esquerda é a São Vicente. Sim, é a quadra da Vai-Vai. Calma, não me agradece ainda que a quadra só vai bombar mesmo mais tarde. Continua seguindo a rua. Tá ouvindo? Isso, naquele boteco. ‘Bora sentar. Exatamente, babe. Te trouxe pr’um samba no Bixiga. Rua Major, casa do Nicola, pacote completo. Nah, trago todo mundo não. Na verdade você é um dos únicos. Só trago quem eu sei que vai curtir com essa cara que ‘cê tá fazendo agora. Cara de bobo? Não, de quem entende o encanto de belavistear. Deixa de ser besta. Tem que agradecer nada não. Só me ensina a acompanhar o ritmo na caixinha de fósforos que ‘tamos quites.

Um comentário:

Felipe disse...

muito legal o seu tour