sábado, 25 de dezembro de 2010

Apenas o fim ...



Eu adoro coisa simples. Diálogos. Conversa besta, sobre pequenas coisas, que na verdade são enormes. Referências nerds. Miles Davis. Essa atmosfera amadora, home-made, precisando de retoques.

Acho que clichês, vezenquando, caem muito bem.
E acho que foi por isso que acabei me encantando com esse filme. Bobinho, simplesinho, "despretensioso". Parecido com um monte de coisa que a gente já viu. Cara de trabalho de faculdade da galera de humanas que circulava pelo campus.

Longe de ser obra-prima. Ao mesmo tempo, muito próximo, muito cativante, muito identificável.
Eu sou ela, pra além  das pernas finas e da complicação sem fim. Eu sou ele, pra além das filosofadas espirituosas sobre futilidades. Escondendo – ou tentando esconder - o quão vulnerável a gente na verdade é com tudo o que ultrapassa a carapaça de ironia. E toca.
"Tudo que parece meio bobo é sempre muito bonito, porque não tem complicação. Coisa simples é lindo. E existe muito pouco.” (CFA)

segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

Season finale ...

Acaba sendo injusto. Mas é o que acontece. Os finais dão o tom. Do espetáculo, do romance, do filme. Porque é o que fica quando você fecha a porta, e se despede. A sensação daqueles últimos instantes. Depois o tempo passa, e com o distanciamento a gente filtra e enxerga melhor o conjunto.  Mas logo que termina, o final dá o tom.
Então acaba sendo injusto. Porque eu poderia citar inúmeros acontecimentos, coletivos e pessoais, pelos quais eu sou muitíssimo grata. E dos quais só a lembrança já proporciona sorrisos bobos enormes.
Ainda assim, fica difícil não rotular como o ano das mortes, do epic  broken-heart, da suspeita de doença crônica, do emagrecer 5 kg em duas semanas.
Despedidas, fins de ciclos, e tudo o que as envolve são sempre muito difíceis e conflituosas pra mim. Mas essa não vai ser não. Porque deu.
Meros pensamentos rascunhados do que pode vir a ser já me fazem ansiar pelo que vem. Sem pensar duas vezes. Sem grandes saudades.
Injusto, eu sei. Talvez  com o distanciamento - e o aprendizado - eu reedite 2010 na memória. So far, so long.

terça-feira, 7 de dezembro de 2010

Do your job etc. ...

São Paulo não se resume à Avenida Paulista. Mas todo paulistano - os que nasceram ou chegaram já nascidos, encontra um canto de lá pra chamar de seu.

Eu tinha a minha esquina.
Lá eu fumava escondido, chorava escondido, beijava escondido, e me escondia das aulas.
Há anos não sentava por lá. Nesses tempos de mundo fazendo pouco sentido, resolvi revisitar.
Seis anos exatamente.
Da última vez eu tinha um resultado de vestibular nas mãos, e todos os sonhos do mundo. Desta, tenho um diploma, e todas as dúvidas do mundo.

E enquanto olhava as pessoas passando, sempre com pressa, mesmo em dezembro, ainda que durante a tarde mais bonita possível. Acontece o inesperado.
- Ei você, não quer ajudar a gente? Conhece nosso projeto?
Procuro alguma pista no panfleto dele com cara de tédio: MSF. Abro um sorriso, a conversa muda.
Em meia hora, divido um cigarro, ganho motivação - aquela que andava perdida,  e a promessa de nos encontrarmos daqui a 03 anos, na África.

Como se precisasse, já de saída, na escada do metrô, ouço um "olha filha, aquela mocinha que me atendeu no pronto-socorro. Nem tinha formado. Mas foi a melhor médica que já me atendeu."
Agora formei, dona. Agora entendi. Às vezes a gente precisa mesmo voltar pra casa pra conseguir enxergar além.



quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

To Sheila ...


Todo mundo tem um alguém. Que de uma forma ou de outra, a gente sente que vai estar sempre por perto. Um sentimento enorme. Não se compreende direito, não se sabe lidar. Confunde, pesa, distancia, vai, volta, mas tá sempre ligado. De alguma maneira, a gente sempre acaba voltando ao início.

É recíproco. E faz bem. Às vezes mal. Porque não nascemos preparados pra essa coisa enorme. Vai contra nossas idéias de liberdade e ânsia de experimentar tudo ao mesmo tempo agora. Dá medo. No fundo, todo mundo tem esse alguém. O meu chamava André.

E sabê-lo em algum canto desse mundo me fazia mais feliz, me deixava mais inteira. Quando aqui, quando em Boa Viagem, quando em Paris. Ele sempre esteve. Quando juntos, quando nos despedimos, quando eu disse que acho que posso sentir pelo geógrafo o que um dia eu senti por ti, quando eu voltei com a cara inchada dizendo que nunca mais quero sentir o que eu senti por ti e pelo geógrafo. Sempre esteve. Com Coltrane e colos e chacoalhões mais do que necessários. Nas vitórias todas e nos epic fail da vida.

Pelas estatísticas, quase todo mundo tem um conhecido que cometeu suicídio. E eu sempre achei cruel o que acontecia com quem fica. Todas as elucubrações de será que podia ter sido feito algo para impedir. A culpa de achar que deixou passar todos os sinais. De não ter conseguido ajudar, de não ter estado presente. Pelo menos não o suficiente.

E quando os dois alguéns são a mesma pessoa?

Parte de mim, nunca vai te perdoar. Por não ter contado o quão difícil tudo estava. Parte de mim, nunca vai me perdoar. Por não ter conseguido enxergar o quão difícil estava.
É um buraco tão grande. Não dá pra escrever, não dá pra descrever. Não sai voz nenhuma.

Eu só queria que ele tivesse me contado que aquela conversa era a última.
Eu só queria que crescer não implicasse em ter de me despedir de todas as pessoas que eu mais amo nessa vida.
E eu amo tão pouca gente. E elas fazem tanta falta.
Não quero criar tanta casca a ponto de virar pedra.
The more you change the less you feel.