sábado, 1 de janeiro de 2011

O que tem de ser, tem muita força ...


Poderia começar comentando qualquer aspecto. Porque seriam todos elogiáveis. De partes mais técnicas como teor do discurso e postura em relação aos líderes internacionais, a superficialidades tal qual roupa-cabelo-maquiagem. Todas elogiáveis.

Mas ela citou dois dos meus trechos favoritos de Guimarães Rosa. Ela começando a citar sem nominar o autor, e eu mal acreditei. Que a presidenta que já me enche de orgulho citava meus trechos favoritos de um dos meus livros favoritos.
É de um simbolismo pessoal enorme.
Depois d'eu ter "reclamado" do discurso no dia da votação, era a redenção. Já tinha me ganhado aí.

Mas não, ela fez mais.
Ela ratificou a importância de ser mulher e da luta da mulher inúmeras vezes. Ela destacou a relevância dos professores lindamente. E homenageou todos os companheiros da época da ditadura.

Houve uma cena que eu achei magnífica. Aquela mulher que foi torturada, presa, que viu tantos colegas morrerem, andando altiva frente a todas as forças armadas, como "comandante". Forças que eram o símbolo do regime que ela lutava contra, aquele do outro lado da trincheira. E andava sem nenhuma mágoa, nenhum rancor, orgulhosa.

Não consigo nem imaginar o que se passava pela cabeça dela naquele momento. Mas consigo dizer o tamanho do orgulho e admiração que se passavam pela minha, quando ela parou pra reverenciar a bandeira com um beijo. Num misto de respeito e carinho. Logo daquela que rotulam como fria-brava-mal-amada. Um dos gestos mais bonitos que eu já vi em posses.

Daí que pra mim essa foi a tônica do cerimonial todo. Dilma mostrando o lado emotivo e humilde em meio a tantas etiquetas. Discursando sobre o papel de sonhos junto à coragem e à realização. Porque é sim a pessoa séria-de-personalidade-forte-talvez-mal-humorada, mas com o quê carismático do "hey, Lula, cheguei" frente a rampa junto a lágrimas disfarçadas.
Lágrimas que também eram minhas, de Zé de Abreu, de Lula e de cada rosto em que a câmera ia dando close enquanto ela discursava segurando as suas lá em cima.

"Netinhas, a vovó viu quando o presidente metalúrgico analfabeto passou a faixa pra presidenta guerrilheira mal-humorada de personalidade forte. A primeira. Foi mais do que outro importante avanço democrático. Era como se cada uma de nós estivesse de faixa com ela. Foi emocionante. Até hoje é. "



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