“Ganhaste, invocadinha. Pára de chiar.” Diz ele, mezzo rindo mezzo incompreendendo. Rio também. Último gole, ‘bora pra casa que amanhã levanto cedo.
Ele incompreende. Que não é dicotômico, vitória ou derrota, sim ou não. Há todo um espectro, shades of grey. Há os pilares e as motivações por detrás, subtexto etc. E nas vezes em que você os enxerga, fica um pouco difícil simplesmente ignorar e all in.
Mas ele tem razão. A gente que é cético-implicante-cínico-chato precisa escolher. Por mais que procrastinar seja viver. Chega uma(s) hora(s) na vida em que temos que escolher. Entre participar - apesar de críticas e ressalvas, ou fuck-this-shit e ir pra montanha. Pode ser um participar com o intuito de mudar, mas ainda acaba sendo uma escolha entre fazer parte ou não.
O que anda me incomodando é que chegamos num ponto em que se generalizou e se subverteu. O cordão da intolerância cada vez aumenta mais. Ficou hype ser blasé-reclamão-babaca. As pessoas agora ficam acompanhando gente que desprezam, notícias que não lhes interessam, gostos antagônicos aos seus pelo mero prazer de xingar-humilhar-ofender. Haters gonna hate.
You don’t relate to me, no boy. Análise crítica é diferente de ódio besta. Debate pressupõe respeito. Parece que não sobrou nada que você possa realmente gostar e fazer parte. Sempre vai haver um porém, um senão, “uma traição ao movimento”, uma falta de análise e perspicácia da sua parte.
Okay, o mundo anda cada vez mais fucked up e há milhares de motivos pra insatisfação. Exatamente por isso cada um descobre o que ainda assim te faz acordar pela manhã. Apesar de. As tais escolhas.
Gotta choose your battles, you know. Nas pequenas e grandes coisas.
Gotta choose o grau de prostituição profissional que estamos dispostos a nos submeter. Como ponte pra fazer o que você realmente curte e acredita, pra pagar as contas e sustentar a família, porque sim, por que não? Na maioria dos empregos somos beátches em maior ou menor grau, mas o quanto vale sua ideologia é uma escolha de batalha pessoal. Escolhi demissão, o que não implica em bullying com quem escolheu continuar.
Relacionamentos impreterivelmente acabam, machucam, têm momentos de total madness dos quais a gente se envergonha. Eu olho ao redor e vejo a maioria das pessoas juntas por razões que não fazem o menor sentido pra mim. Mas há a decisão. De continuar tentando, mesmo assim; ao invés de ir morar com doze gatos e o redtube.
E o futebol, paixão pra mim e tanta gente, negócio e cifras pra quem trabalha com ele. Enxergo a coação a pagar caro pelo ingresso, o fazer jogo dependendo do horário da novela, os pseudo-ídolos babacas e negociações mercenárias, a pressão pra assinar PFC. Eis que vem a escolha de continuar acompanhando e torcendo sabendo de tudo isso, e não migrar pros campeonatos de bocha.
Não escolhi nascer cética-implicante-cínica-chata. Mas escolho ainda assim gostar de coisas, ainda assim me deixar apaixonar por elas. Enquanto fizer acordar pela manhã. Sei que a montanha eremita me espera mais cedo ou mais tarde, a rabugice vai aumentando a cada aniversário. Mas eu vou pra lá com as lembranças de tudo que causa(ou) taquicardia, apesar dos defeitos, ainda que com ressalvas. Vida sem paixões é muito chato. A gente anda ficando muito chato. Não é pra parar de enxergar-questionar-querer-mudança. Mas ‘bora arranjar mais espaço pra curtir coisas também. Bring the sixties a little back, will 'ya?!
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