Tony fuckin' Montana |
Passo pelo hall e o porteiro entrega o embrulho.
“Agora que acabou a greve, tá chegando pacote aos montes. Assina aqui, por
favor.” Garrancho digno de mão direita, que dia é hoje mesmo? “Vinte-e-um,
sexta.” Ah, sexta. “Deixo subir direto quando chegar o barbudo, dona?” Sou dona
não, moço. E 'brigada, mas hoje não tô esperando barbudo nenhum. “Cansada, sei como é.”
Meio-sorriso e aceno a caminho do elevador. Cansada de gente, moço. Será que
você entende? Dá de tempos em tempos. Mais freqüentemente do que eu gostaria.
Rasgo
o embrulho com o dente ainda no elevador, como criança curiosa que sempre
serei. Reconheço a letra do bilhete junto à camiseta. Nó no estômago. Acho que
preciso de vinho pra ler qualquer coisa que possa vir daí. Mas já tinha dado
pra ver o Tony Montana assim de soslaio. Sorrisos. Sorrisos ao cubo, porque
lembrar de aniversário sem facebook ou twitter não é qualquer merda não.
Lembrar e resolver escrever depois de tanto tempo de silêncio deu uma
desmontada na armadura mandaquiana.
Só eu sei o quanto tentei me apaixonar por ti,
guri. Quis muito. Muito mesmo. Tu merecias. Na teoria seria perfeito. Eu
merecia. Enterrei dois amores em seis meses e ansiava demais por virar a
página. Mas na prática não funciona assim, né. E sou chata, já lhe disse. Me
apaixono quase nunca. Porque quando vem é de foder, dá até medo. E sou
estranha, já lhe disse. Não me vejo casada e com filhos daqui a cinco anos.
Talvez nunca. Intuiçãozinha diz que não vou “sossegar” com ninguém não. E tudo
bem. Anda cada vez mais okay esse negócio de viver “lances”. Minor lances. Só
que contigo não dava pra ser minor, né. Não seria justo. Então entendo
distância. Entendo silêncio. Mesmo.
Eu sou você. Com os dois lá de cima. Já fiz papelzinho
ridículo e tudo. Então entendo mesmo. E acho que vou me desculpar até o fim dos
dias. E o carinho vai continuar sendo major até o fim dos dias. Fuckin’ huge. Se
um dia achar que der, volta. Do jeito que conseguir. Vou achar lindo. Fuckin’
beautiful. Mesmo sendo bastante improvável.
Lembra quando você disse que seu maior medo era não conseguir mais gostar tanto de alguém?
O meu é o de conseguir, e ter de enterrar de novo.
"Aqui ninguém vai pro céu", babe.