sexta-feira, 19 de agosto de 2011

You can leave whenever you want out ...


“Ganhaste, invocadinha. Pára de chiar.”  Diz ele, mezzo rindo mezzo incompreendendo. Rio também. Último gole, ‘bora pra casa que amanhã levanto cedo.

Ele incompreende. Que não é dicotômico, vitória ou derrota, sim ou não. Há todo um espectro, shades of grey. Há os pilares e as motivações por detrás, subtexto etc. E nas vezes em que você os enxerga, fica um pouco difícil simplesmente ignorar e all in.

Mas ele tem razão. A gente que é cético-implicante-cínico-chato precisa escolher. Por mais que procrastinar seja viver. Chega uma(s) hora(s) na vida em que temos que escolher. Entre participar - apesar de críticas e ressalvas, ou fuck-this-shit e ir pra montanha. Pode ser um participar com o intuito de mudar, mas ainda acaba sendo uma escolha entre fazer parte ou não.

O que anda me incomodando é que chegamos num ponto em que se generalizou e se subverteu. O cordão da intolerância cada vez aumenta mais. Ficou hype ser blasé-reclamão-babaca. As pessoas agora ficam acompanhando gente que desprezam, notícias que não lhes interessam, gostos antagônicos aos seus pelo mero prazer de xingar-humilhar-ofender. Haters gonna hate.

You don’t relate to me, no boy. Análise crítica é diferente de ódio besta. Debate pressupõe respeito. Parece que  não sobrou nada que você possa realmente gostar e fazer parte. Sempre vai haver um porém, um senão, “uma traição ao movimento”, uma falta de  análise e perspicácia da sua parte.

Okay, o mundo anda cada vez mais fucked up e há milhares de motivos pra insatisfação. Exatamente por isso cada um descobre o que ainda assim te faz acordar pela manhã. Apesar de. As tais escolhas.
Gotta choose your battles, you know. Nas pequenas e grandes coisas.
Gotta choose o grau de prostituição profissional que estamos dispostos a nos submeter. Como ponte pra fazer o que você realmente curte e acredita, pra pagar as contas e sustentar a família, porque sim, por que não? Na maioria dos empregos somos beátches em maior ou menor grau, mas o quanto vale sua ideologia é uma escolha de batalha pessoal. Escolhi demissão, o que não implica em bullying com quem escolheu continuar.
Relacionamentos impreterivelmente acabam, machucam, têm momentos de total madness dos quais a gente se envergonha. Eu olho ao redor e vejo a maioria das pessoas juntas por razões que não fazem o menor sentido pra mim.  Mas há a decisão. De continuar tentando, mesmo assim; ao invés de ir morar com doze gatos e o redtube.
E o futebol, paixão pra mim e tanta gente, negócio e cifras pra quem trabalha com ele. Enxergo a coação a pagar caro pelo ingresso, o fazer jogo dependendo do horário da novela, os pseudo-ídolos babacas e negociações mercenárias, a pressão pra assinar PFC. Eis que vem a escolha de continuar acompanhando e torcendo sabendo de tudo isso, e não migrar pros campeonatos de bocha.
Não escolhi nascer cética-implicante-cínica-chata. Mas escolho ainda assim gostar de coisas, ainda assim me deixar apaixonar por elas. Enquanto fizer acordar pela manhã. Sei que a montanha eremita me espera mais cedo ou mais tarde, a rabugice vai aumentando a cada aniversário. Mas eu vou pra lá com as lembranças de tudo que causa(ou) taquicardia,  apesar dos defeitos, ainda que com ressalvas. Vida sem paixões é muito chato. A gente anda ficando muito chato. Não é pra parar de enxergar-questionar-querer-mudança. Mas ‘bora arranjar mais espaço pra curtir coisas também. Bring the sixties a little back, will 'ya?!