domingo, 31 de julho de 2011

Sophisticated lady ...

Você é daqueles que descreveriam música como uma espécie de combustível pessoal? Diria que elas têm o poder de realmente te afetar? Você consegue classificá-las dentre rótulos como as-que-te-salvam, as-que-são-como-soco-no-estômago, as-de-ficar-dançandinho-na-cadeira, e mais tantos outros?
Então você faz parte do clube.
E vai entender perfeitamente o que quero dizer quando eu contar minha descoberta de agora.

Eu voltei a escutar A pasta. Aquela empoeirada ali do lado da lixeira.
A pasta.
Cat Power – Bon Iver – Beirut – Explosions in the Sky – Glen Hansard etc.
Voltei a conseguir escutar do jeito de antes.
De morrer um pouquinho, de beleza doída, de dominguites de madrugada.

Depois de longos meses de retorno total ao trash metal da adolescência.
Porque só ali ressoava alguma coisa.

Voltou, I think. Voltei, I guess.
"It’s been a long time long time now."
" When it breaks my hea-a-a-a-a-a-a-a-a-art."
Significa, percebe?
(re)Permitir-se sentir.

“Se a gente puder ir devagarinho como precisa, e ninguém não gritar com a gente para ir depressa demais, então eu acho que nunca que é pesado...”


terça-feira, 19 de julho de 2011

Pras gurias de hoje ...


Se tem algo que aprendi por ter muito mais amigos homens que mulheres. Se tivesse que escolher um item pra contar pras amigas, conhecidas, gurias descontroladas no banheiro de hoje, seria isto: não julguem os caras – nem ninguém - pelo fim, pela forma de comportamento após o término de um relacionamento.

Tudo bem que estereotipar um gênero inteiro é raso, injusto, determinista. Pessoas são bastante diferentes por mais parecidas que possam ser, por mais cromossomos em comum que tenham. Ainda assim, gostaria que elas entendessem: não os julguem pelo fim. Mesmo.

Se ele tá passando o rodo em todas. Se não conversa ou fica monossilábico contigo online. Se foi teu aniversário e ficaste esperando pelo parabéns que não veio. Se em semanas ele já aparecer de namorada nova. Nada disso “dessignifica” o que vocês viveram. Trust me.

Eles – muitos deles - sentem, sofrem, e seguem em frente de forma diferente do que a maioria(?) de nós, diferente da forma que egoisticamente gostaríamos. O que não quer dizer que não estejam sofrendo, que não sintam saudades, que não se lembrem.

Lógico que mesmo sabendo disso, também me machuco-magôo-fico-com-raivinha. Mas tento fazer da situação algo pontual, parte dos momentos de misery&madness que normalmente compõem meu processo de moving-on. Não trasformo em algo maior achando que fui enganada, que só eu estava envolvida na relação, que foi tudo um grande desperdício de tempo e sentimentos. “Olha como o filho-da-puta está bem enquanto eu aqui na merda o vendo em tudo o que encontro pela frente”. Nada disso me faz querer vingança, ou aparecer gostosona na frente dele com outro, nem pegar os amigos próximos por birra.

Até porque, mesmo se o "filho-da-puta” estiver mesmo já em outra e feliz, se você não foi tão marcante assim pro cara, etc. Isso muda o que viveu e significou pra ti? Transforma as lembranças, aprendizados, sussurros em algo inválido e sem qualquer tipo de importância?
Não deveria.
Essa é uma questão que toda vez que alguém tentar supor, provavelmente estará bastante enganado. Ninguém além de si sabe o quanto tal pessoa realmente significa. Principalmente baseado nas atitudes de um período tão peculiar e cruel.
Cada um lida com a perda como bem entende, como bem consegue.
Então é assim. Sofra o que tiver de sofrer, xingue se te ajudar a superar mais rápido, leve o tempo que precisar. Mas não reescreva lembranças ou apague memórias forçosamente por causa de comportamentos depois do fim.
Se eu te contar quantos deles comem todas, enquanto comigo só falam de vocês. Quantos deles me apresentam a namorada nova, mas depois de dois uísques me puxam pr’um canto pra contar que elas nunca vão ser vocês. Quantos deles lembram do aniversário, daquela viagem, daquela transa. Se escutassem o que eu escuto, não jogariam os meninos e o relacionamento que tiveram no ostracismo por todas essas besteiras que escuto por aí.
   
Nerds, hustlers, players, romeus. Sobra testosterona. Falta inteligência emocional. Mas hey, tenho certeza que no fundo vocês, assim como eu, os acham adoráveis .

sábado, 9 de julho de 2011

Belavisteando ...

(Ou, mi casa su casa)

Não, não é mais lá. Onde? Pra mim - eu que nunca manjei muito de geografia - é o coração da cidade. Eu sei, não dá pra ser mais clichê do que isso. Mas é verdade. Fica tudo ali, representado no quadrilátero. Microcosmo pulsando etc. Vem que te mostro. Sim, começa aqui mesmo. Paulista-arranha-céus-engravatados, Gazeta-Pamplona-MASP, estereótipos pra turista se fartar. Cuidado pra não esbarrar nas rodas de estudantes-blasesinhos-Cásper-GV. Como identificar? Fashion victims, cigarro queimando sozinho numa mão, Iphone e café da Starbucks na outra. Continuemos. Isso, Augusta, Consolação, ficam poucos quarteirões à frente; te disse que não era longe. Mas vem que o que eu quero mesmo te mostrar não é isso. Tá, ‘bora descer pela Frei Caneca então, a gente dá a volta lá embaixo. Aham, aqui a galera se sente à vontade pra beijar e andar de mão dada. Deveria ser assim em todo lugar, não acha? Ih, o Glória fica do outro lado, na Treze de Maio. Mas eu duvido que você ainda queira ir pra lá depois do que eu vou te mostrar. Continua seguindo em frente. Haha, deve mesmo ser a maior concentração de hotéis e teatros por metro quadrado. Hospitais também, ou então eu nunca poderia trazer minha cuia pra cá. A gente vai virar ali à direita, na Avanhandava. Essa mesmo, da famiglia famosa. Mas as cantinas delícia pra mim são as perto da Achiropita, amanhã a gente almoça por lá. Continua descendo a ladeira. Ah, ‘cê tá achando esses prédios luxuosos? É que a gente ainda não chegou no Morro dos Ingleses. Único lugar da região em que não vejo morador de rua. Certeza que mandam os seguranças dos duplex “limparem” a rua. Não, não vou contar pr’aonde tô te levando. ‘Guenta que falta pouco. As sirenes? Deve ser a polícia batendo na boca da Paim mais uma vez. Atravessa com cuidado que vira e mexe tem tiro. Medo? Eu fico é triste. Tem tanta gente bacana morando naqueles prédios. Um argentino que compõe tangos, umas senhorinhas da (ex)Tchecoslováquia com estórias de vida - e de guerra - inacreditáveis, e um dos meus pacientes favoritos: o gaitista diabético, incrível e lesado. Não, não cheira nada, pelo menos não que eu saiba. Lesado porque cismou que vai me ensinar a diatônica. Quais as chances da canhota aqui conseguir?! Mas ele bluesando é qualquer coisa de orgásmico. Sério. Adoro quando tenho que fazer VD por lá. Ah, desculpa. VD é visita domiciliar. Todo mundo dessa rua é paciente meu, da minha equipe de PSF. Haha, programa de saúde da família. Quando começo com as siglas não paro mais. Ei, prest’enção aí no semáforo que a galera passa voando na Nove de Julho. Pronto. Tá vendo aqui? Praça 14 Bis. Essa rua à esquerda é a São Vicente. Sim, é a quadra da Vai-Vai. Calma, não me agradece ainda que a quadra só vai bombar mesmo mais tarde. Continua seguindo a rua. Tá ouvindo? Isso, naquele boteco. ‘Bora sentar. Exatamente, babe. Te trouxe pr’um samba no Bixiga. Rua Major, casa do Nicola, pacote completo. Nah, trago todo mundo não. Na verdade você é um dos únicos. Só trago quem eu sei que vai curtir com essa cara que ‘cê tá fazendo agora. Cara de bobo? Não, de quem entende o encanto de belavistear. Deixa de ser besta. Tem que agradecer nada não. Só me ensina a acompanhar o ritmo na caixinha de fósforos que ‘tamos quites.